Aquele que me passou a herança rubro-negra...

 

(Foto: Arquivo pessoal)

 

Hoje eu venho falar sobre aquele que me deu a primeira camisa do Brasil, que eu guardo com carinho até hoje. Aquele que me levou aos jogos até que eu pudesse ir sozinha e que quando eu era muito criança, dizia que eu não podia ir porque era perigoso. Até que chegou um momento que não podia mais segurar. Até porque, como diz o nosso tão amado hino, aquelas cores são o nosso sangue e a nossa raça. É inevitável.

 

Muita gente pode vir a se identificar com o que eu vou escrever aqui. Afinal, o clichê também se aplica: pai é tudo igual, só muda de endereço. Pelo menos os que são e têm filhos doidos por futebol. Qualquer pai levaria o filho para entrar no gramado com os jogadores como o meu fez, mas nem todos atravessariam uma guerra de pedras e balas de borracha contigo para conseguir chegar até o estádio. Hoje eu e ele rimos ao lembrar disso.


Como diz a música daquele que ele chama de Rei, são tantas emoções que vivemos. A primeira que me salta à mente é o acesso à Série B em 2015. O jogo foi do outro lado do país, eu não consegui terminar de assistir em frente à televisão devido a fortes dores no peito. Ele assistiu, mas com falta de ar. Parece que eu ouço perfeitamente a voz de minha mãe dizendo “onde já se viu quase morrer por causa de futebol”. Uma loucura que só eu e ele entendemos.


Pai, neste dia eu quero te desejar um mundo de coisas boas, pois tu merece e muito. Que a gente ainda tenha muitos anos pela frente para assistirmos desde a terceira divisão do campeonato acreano até aquela majestosa final de Champions League na TV, pois não importa qual é o jogo, só importa que a gente compartilhe a nossa paixão como tanto gostamos. Gritando como se fossem capazes de nos ouvir. Chamando um ao outro de pé frio. Dizendo “tu não sabe que o fulano não joga nada, só quebra uma louça”.


Que a nossa segunda casinha, carinhosamente chamada de Baixada, ainda nos receba muito e quando a gente entre, tu olhe para mim e diga “onde que a gente vai ver o jogo?” e eu responda “no meião do lado da Garra, óbvio”. Que mesmo quando os anos realmente chegarem, tu ficar bem velhinho e sentar no sofá com o radinho, saiba que tu vai sempre poder olhar para mim e dizer “Alice, como é mesmo o nome daquele jogador?” pois sabe que transmitiu bem o conhecimento de tantos anos.


Parabéns ao responsável por esse amor rubro-negro que pulsa no meu peito. Parabéns ao responsável por eu saber o que é um impedimento. Parabéns ao responsável por eu saber falar com propriedade sobre futebol e ter a oportunidade de escrever hoje como eu escrevo. Parabéns ao responsável pelo ser humano que eu sou. Parabéns. Eu te amo.

 

Por: Alice Silveira