CHORAMOS HOJE, MAS SORRIREMOS AMANHÃ

Marta foi às lágrimas ao final da partida. Foto: O Globo

 

Com um pouco mais de calma e clareza das ideias, resolvi começar este texto. Aviso-lhes de antemão que não é uma tarefa das mais fáceis, a julgar pelo momento. Uma triste eliminação, de lágrimas não só de nossa rainha, mas de todas as atletas que enfrentam tudo e todos, pelo direito de jogar e de dor, por parte de quem torce e crê no futebol feminino.

Vivemos em uma sociedade machista, e sei que é repetitivo reafirmar isso. Porém, depois deste Mundial, a máscara que encobria o falso patriotismo de muitos, caiu, revelando o mais profundo desprezo pelo futebol feminino!

A prática feminina nunca foi valorizada no Brasil e chegou até mesmo a ser proibida. Quem ousou ir contra o patriarcado para poder correr atrás da pelota, foi taxada de sapatão ou de Maria macho. Aliás, foi não, ainda é.

Ano após ano, vimos um pedido de carinho, de acolhimento a nação que é conhecida por seu afeto. Mas o que elas receberam, foi o mais profundo desprezo e as mais duras críticas. Um exemplo disso, se deu doze anos atrás, quando nossas guerreiras foram vice-campeãs do Mundial.

No pódio a seleção estendeu uma faixa pedindo apoio, mas o Brasil, seguiu fechando os olhos para o futebol feminino e assim, muitos talentos foram perdidos. Com a baixa procura não houveram investimentos ou valorização, afinal sabemos que o capitalismo é selvagem e faz valer a lei da oferta e da procura.

 

No pódio seleção pede apoio. Foto: Globo Esporte

 

Os clubes só passaram a investir no futebol feminino, quando se exigiu a prática para a classificação a competições continentais. Hoje, Marta chora pedindo que as meninas sigam treinando, dando seu máximo e para que as entidades cuidem das atletas desde a base.

A seleção sucumbiu, não dá forma vexatória que muitos diziam - e torciam por isso, mas sim lutando, superando cada baixa na equipe, e na hora da queda, uma enxurrada de críticas engoliu as brasileiras, como um verdadeiro tsunami. Comandadas por alguém que não merecia estar ali, e acompanhadas por uma comissão técnica duvidosa, todo o peso caiu apenas nos ombros de cada convocada.

Agora vem a turma falar das cinco estrelas do masculino na camisa, dos Mundiais do Pelé e do Ronaldo, para pisar ainda mais fundo, a ferida já aberta. Meus caros, não sejam ridículos! Foram inúmeros os pedidos para que as estrelas fossem retiradas, mas a CBF não ouviu. A ausência de investimentos, de uma gestão séria e de um técnico com inteligência o suficiente para chefiar meninas de extremo talento, roubaram e roubam, ano após ano, o sonho da Copa Feminina. Ou vocês aceitariam Vadão e seu currículo pífio, comandando a seleção masculina?

A alegria, músicas que elas criaram e tudo que fizeram, hoje é motivo de piada, usado para dizer que faltou bola, e sobrou ousadia. Vocês que na vitória usam a festa de nossas meninas, para diminuir a seleção sem alma de Tite, usam esse mesmo artifício para atacá-las na derrota?

A gente vê a maior jogadora do mundo dando a cara pra bater, indo às lágrimas em entrevistas, e os críticos se resumem a falar do tom de seu batom, dizendo que esqueceu o futebol para fazer merchandising, mas e quando Neymar usou a seleção para propaganda do cabelo, onde vocês estavam? Pior é ver que acham justo, nossas atletas terem de reclamar por salários, por reconhecimento, as comparando a homens e justificando exatamente assim, a baixa remuneração. Enquanto isso, os meninos, reclamam da água fria dos estádios, ou das vaias da torcida, mas quando tiveram tudo a favor, saíram com 7 gols na conta.

 

Ser jogadora é a maior prova de amor ao futebol que pode existir, principalmente no Brasil. É deixar a família de lado, e ter que dia após a dia lutar. É nunca ter o direito de ser simplesmente humana, pois um deslize é inaceitável. 

Nossas guerreiras enfrentaram uma das favoritas, que tem como base, atletas que faturaram a última Champions, lutaram bravamente por mais de 120 minutos e são sim, motivo de orgulho!

É o fim da era Formiga e Cristiane, e a incerteza da continuidade de Marta. Mas é o começo, ainda que engatinhando, de uma nova história para o esporte. Que as atletas possam erguer a cabeça e seguir firmes, afinal, ano que vem tem Olimpíadas, e todo dia tem luta pelo reconhecimento do futebol feminino.

 

Por Mariana Alves