Da lama ao caos, do caos a lama



Campeonato Carioca morreu depois desta final entre Vasco e Fluminense, pela Taça Guanabara
 



Hoje não falarei sobre o jogo. Já é sabido que o Fluminense perdeu por 1 x 0 e o adversário foi campeão. Meu coração continua Tricolor e agradeço por não ter visto a minha torcida passar pelo mesmo pesadelo que os que estiveram no Maracanã. O futebol deveria ser um espetáculo para o povo. Para pessoas de todas as raças, credos e orientação sexual. Dentro dos estádios, deveríamos ver a união das torcidas, cada uma a torcer pelo seu time de coração.

No entanto, o que foi visto do lado de fora do Maracanã, na tarde de domingo foi um festival dos horrores. Uma praça de guerra onde a polícia colocou sua cavalaria para coibir a violência, gastou tubos de gás de pimenta e abusou das balas de borracha. No lugar da alegria, vimos o desespero e o caos. O resultado foram 29 pessoas no posto médico, duas no hospital e quatro presos.


Sabemos que a Ferj ajudou muito no processo de decadência do futebol carioca, desde os primórdios quando o senhor do charuto, Eurico Miranda se tornou o melhor amigo de Eduardo Viana. Juntos eles reinaram absolutos e muitas trapaças foram feitas por baixo do pano. Já ouvi histórias escabrosas da dupla que não tinha o menor caráter para alcançar seus objetivos. No caso de ambos, a vitória eterna do time de regatas de São Cristóvão. Tudo era possível, todos eram comprados.

Pouca coisa mudou nos dias atuais, o que mudou foi somente as pessoas e não o modo operante. Desta vez, a Ferj exorbitou do seu direito de entidade ao compactuar com a falta de zelo com uma partida da final da Taça Guanabara. Tudo foi feito da pior maneira, desde a venda dos ingressos até essa briga por que lado eu fico, que durou até domingo.



A novela e a soberba

Tudo começou quando o presidente do Vasco, Alexandre Campello disse que só jogaria a final no Maracanã se tivesse sua torcida no setor sul. A concessionária acordou, assim como a Ferj. O Fluminense conseguiu liminar garantindo o seu direito de ocupar o setor C. Apesar desta decisão judicial, 18 mil ingressos já haviam sido vendidos, para os vascaínos.

No sábado, uma reunião na Ferj foi feita e terminou sem definição. Campello disse que não podia cumprir a decisão judicial em razão dos ingressos já vendidos. Abad convocou tricolor para a “guerra”, no sentido figurado de comparecer ao clássico. Logo começaram a dizer que ele era o culpado por incitar violência.

No domingo uma desembargadora aceitou o pedido do Fluminense e definiu que o jogo seria com portões fechados. Justificou a medida pelo “risco de conflito” e pelo contrato não ser claro quanto à posição da torcida tricolor quando o clube é visitante. O Fluminense soltou uma nota oficial e pediu para que seu torcedor não comparecesse ao estádio. O time da colina, vaidoso, insistiu em levar sua torcida e em abrir os portões.

Portões abertos e o descumprimento da decisão da Justiça significaram uma multa de R$ 500 mil para o Vasco e futuras sanções para a concessionária. Horas antes do jogo, o Cruz-maltino divulgou que ia abrir os portões. A Polícia Militar e o Juizado do Torcedor afirmaram que só efetuariam a  com autorização judicial.

 

Diante disso, foi feito um termo de compromisso assinado por autoridades, dirigentes do Vasco, da Ferj e da concessionária, e levado ao Jecrim para solicitar a abertura dos portões. O documento alegava que o risco em manter portões fechados era maior do que descumprir a decisão. Cabe ressaltar que esse documento não tem valor legal.


O torcedor em último lugar

Um dos pontos principais do Estatuto do Torcedor é a venda de ingressos com até 72 horas antes das partidas com o mesmo tratamento para todos os torcedores. O torcedor tricolor não teve acesso aos ingressos, não sabia o que fazer. Os do Vasco com ingressos na mão. Rasgaram o Estatuto do Torcedor e depois atearam fogo. Esses mesmos se esquecem que somos nós quem frequentamos estádios. Se existe um contrato assinado entre a concessionária e o Fluminense sobre o clube usar o setor Sul, a falida entidade tirou o tricolor do seu lugar no estádio.

Trecho do contrato:

Nas Partidas Oficiais, contra quaisquer outros dos Principais Clubes do Rio de Janeiro, a torcida do FLUMINENSE acessará e se posicionará no setor Sul do Estádio (lado UERJ), em sua integralidade, através das entradas, acessos e rampas correspondentes e disponíveis para esse setor, salvo haja ordem expressa em sentido contrário por parte de:

(i) Órgãos Públicos especificamente por questões de segurança;

(ii) salvo acordo expresso entre o FLUMINENSE e a equipe visitante; e

(iii) nos casos em que o FLUMINENSE for visitante, a

CONCESSIONÁRIA poderá, para fins comerciais, mediar acordo entre o FLUMINENSE e o clube mandante, resguardados os direitos do FLUMINENSE previstos neste contrato”.


Brincadeira tem hora

Sim, a zoação faz parte do jogo. Claro que se meu time ganhar vou vibrar, comemorar e andar com nariz empinado vestindo a camisa mais bonita do mundo. No entanto existe respeito. Meu pai foi vascaíno e me ensinou tudo o que sei sobre futebol, assim como saber até onde ir com a brincadeira. Educação vem de berço.

O volante Felipe Bastos não me pareceu ter educação alguma quando fez um vídeo infeliz, onde gritou “torcida de viados”. Que bom termos gays, negros, lésbicas, crianças filhas de mães solteiras, deficientes físicos e todos juntos em nossa torcida. Diversidade. Eu tenho orgulho disso!

Hoje, ele gravou outro vídeo onde “se desculpou” pelo feito, num tom pouco convincente e uma expressão debochada. Serviu? Não em minha opinião. Esse tipo de coisa não deveria mais existir. Comemorasse seu título com os seus e não vomitando sua homofobia. Pior é saber que num país como o nosso esse tipo de coisa passa batido, sem nenhum castigo. Ele ainda alcançou seus quinze minutos de fama e ganhou notoriedade nas redes sociais. A torcida rival enalteceu a atitude, vibrou com as ofensas e fez do beócio um mito. No final, o jogador homofóbico sairá impune.

Nessa luta de vaidades e egos entre dirigentes dos clubes e a diretoria da entidade que deveria lutar por um futebol carioca de qualidade, quem perdeu foi o torcedor!

A cena que não sai da minha cabeça: Portões abertos, torcedores vascaínos no estádio e os dirigentes no camarote do Vasco aplaudindo.

Por atitudes como essas, só tenho que dizer: Graças a Deus sou Tricolor!

Antes de fechar, quero destacar que a Força Flu representou as outras torcidas organizadas colocando sua faixa no Maracanã. Como eles costumam dizer “onde o Flu estiver”. Balu você é um querido!

Por: Carla Andrade