Dia da caça, dia do caçador

 

Na mitologia iorubá, Oxóssi é o caçador que dispunha de uma única flecha para acertar o pássaro da morte que ameaçava o povo de Ketu. Por esse feito, é chamado de “caçador de uma flecha só”. Ele só teria uma oportunidade e não poderia desperdiçá-la.

No Rio de Janeiro, a figura de Oxóssi é sincretizada com o padroeiro da cidade, São Sebastião, e celebrada no dia 20 de janeiro. Em 2019, a data marcou também o confronto entre Flamengo e Bangu, na estreia dos dois times no Campeonato Carioca. E diante de um Maracanã lotado, com recorde de público do Flamengo e apresentação de contratações milionárias, o Bangu não poderia desperdiçar nenhuma chance.

Foi tudo muito rápido: aos dois minutos, a cabeçada do atacante Pingo parou em Diego Alves; no minuto seguinte, gol nosso. Assim mesmo, no susto. Bastaram três minutos de jogo para o Bangu acertar sua flecha, em uma cobrança de lateral de Kelvin direto na área, para Anderson Lessa cabecear para o fundo da rede.

 

(Foto: João Carlos Gomes/Bangu AC)

 

Bangu abrindo o placar contra um time de maior investimento, fora de casa, na estreia, Anderson Lessa... A história do ano passado, no jogo contra o Vasco em São Januário, parecia se repetir. Porém, doze minutos depois, a arbitragem resolveu lembrar a todos que isso aqui é a Ferj, e não marcou uma saída de bola pela linha de fundo. Na continuidade do lance – irregular –, o meia Diego chutou em direção ao gol banguense e a bola bateu no braço do volante Felipe Dias, que recebeu cartão vermelho direto. Diego bateu o pênalti e converteu, empatando a partida para o time rubro-negro.

 

(Foto: Globoesporte.com)

 

Erro de arbitragem, jogo empatado e o Bangu com um jogador a menos, tudo isso ainda na metade do primeiro tempo. O cenário, que começou tão animador, agora já não inspirava tanta confiança. Foi quando um personagem que já se destacava na partida passou a fazer toda a diferença: o goleiro Jefferson Paulino, que fez defesas sensacionais e segurou o 1 a 1 até o intervalo.

 

No segundo tempo, o Flamengo se impôs ainda mais, e aos oito minutos Rhodolfo virou para os rubro-negros, após cruzamento de Everton Ribeiro. E ainda teve a oportunidade de aumentar o placar em outro pênalti cobrado por Diego - pênalti dessa vez legal, cometido pelo zagueiro Dieyson em cima de Everton Ribeiro, em uma das várias trapalhadas do setor defensivo do Bangu.

Mas não era o dia de perder mais chances: a bola parou em mais uma defesa de Jefferson, e o time alvirrubro, cuja receita é cerca de 150 vezes menor que a do Flamengo, mostrou que não estava ali para servir de caça. A derrota foi mais amarga pela circunstância do que pelo resultado em si. É claro que o time tem deficiências e não são poucas, mas dessa vez não foi o futebol, bom ou ruim, que decidiu a partida.

Quarta-feira o jogo é contra o Botafogo, no Engenhão, e dessa vez esperamos finalmente ver o que o Bangu de 2019 é capaz de fazer com onze de cada lado.

Gabriella Lima