MÃE EM DOBRO: QUANDO A MULHER ASSUME O PAPEL DE PAI E MÃE

 

 

 

A nossa sociedade patriarcal criou um padrão para a instituição familiar. É considerada família aquela que é composta por: Mãe, Pai e Filhos. Mas a realidade dos lares brasileiros é outra.

Segundo os dados do IBGE estima-se que 11,1 milhões de famílias são formadas por mães solos. E nós, Carla e Thalyta, colunistas da Chapecoense e do Coritiba, respectivamente, fazemos parte desta estática e falaremos um pouco a respeito.

 

Carla Leticia:

 

“Fui criada por uma mulher guerreira, que arregaçou as mangas e foi lutar, por mim, por ela e pela nossa família. Deu as suas lágrimas, pelos meus sorrisos, trabalhou em “chão de fábrica” para que eu pudesse ter um pouco de dignidade, deixou de viver os seus sonhos para viver os meus. Foi obrigada a abdicar de momentos ao meu lado, porque sozinha tinha que carregar o fardo, trabalhava, trabalhava e trabalhava.  

Forte essa palavra que define dona Neusa, bateu de frente sozinha com a sociedade hipócrita que marginalizam as mães solteiras, apontam o dedo e as julgam por não ter o progenitor ao lado, as culpam pela criança que vai crescer sem o “pai”.

É impossível descrever a importância que ela tem em minha vida, faltam palavras para definir a gratidão que tenho por ela, sempre esteve aqui, sempre me ajudou, sempre fez de tudo para que a ausência dele não fosse sentida - e conseguiu! Nunca senti falta, ela estava lá para tudo, até mesmo para assistir os jogos do peixão mesmo não gostando muito de futebol. Está lá para passar o “sermão da montanha” toda vez que vou ao estádio ou qualquer lugar. Está lá para juntar os meus cacos toda vez que desmorono.

É mãe, é pai, é tudo! Exatamente tudo o que tenho na vida. Uma vez eu ouvi a seguinte frase: “ O importante não é o que temos na vida e sim quem temos na vida” e eu tenho você e sou feliz por isso. Feliz dia dos pais, mãe

 

- Colunista da Chapecoense Carla Leticia e sua mãe Neusa Sobrinho.

 

Thalyta Viega:

 

“Minha vida contradiz tudo aquilo que a sociedade define como “família”. Quando eu tinha 08 anos meu pai foi embora de casa e desde então, quem deu o sangue por mim e meus 3 irmãos, foi ela, a minha MÃE.

Para muitas pessoas o fato de serem criados e crescerem sem seu pai, talvez possa ter causado um trauma ou uma deficiência emocional. Hoje aos 24 anos, posso dizer que não tê-lo ao meu lado na fase crucial do desenvolvimento do caráter de uma pessoa, me fez ver a vida com outros olhos.

Minha mãe, que sempre batalhou para sustentar a casa com 4 crianças, desempenhou com maestria o papel de pai e mãe. Sabemos que em hipótese alguma um poderá “substituir” o outro, vendo que homens e mulheres são diferentes na forma como encaram a vida, suas características, hábitos e visão de mundo. Em um mundo composto por homens e mulheres, ambos são essenciais na construção de referência para uma criança.

Porém na ausência de um, o outro se dobra para suprir a vazio daquele que foi embora, em prol de reduzir o dano que essa ausência poderia causar a um filho.  Um ser humano não se constrói apenas com comida, moradia, estudos e algumas broncas. É preciso muito mais que isso...

Carinho, acolhimento, suporte emocional, parceria. Só quem vive isso na pele entende a responsabilidade que se tem nas mãos quando precisamos desempenhar a função por duas pessoas.

Minha mãe, hoje com 50 anos, pôde concluir o ensino médio e se formou em uma faculdade. Está realizando seus sonhos e planos que foram deixados de lado após assumir seus 4 filhos sozinha. Toda sua vida até então foi dedicada na construção de 4 seres humanos, deixando de viver sua vida, para viver a nossa. O nome dela é Dulce Viega, a mulher que me inspira não só como pessoa, mas também como mãe. Ela conseguiu fazer com que a ausência do meu pai não doesse tanto, até que a uma determinada altura, deixou de ter importância.

Aos 21 anos me tornei mãe de uma menina incrível que passou a me ensinar muito sobre a vida. Hoje, com 24 anos, crio minha menina com todo o amor que recebi, buscando sempre me inspirar na história não só de minha mãe, mas também na vida de milhões de mulheres que são o solo de uma criança. 24 horas por dia muitas vezes não são o suficiente, ser mãe é uma tarefa contínua, não há pausas, não há descanso. E isso tudo é um prazer quando descobrimos enfim, o verdadeiro significado de amar uma pessoa e JAMAIS abandoná-la ou torná-la segundo plano.

No dia de hoje comemora-se o dia dos pais, e esta homenagem não é só para os pais que assumem esse papel tão importante, mas também a NÓS, mulheres mães que suprem a ausência de um pai o qual não honrou essa missão tão prazerosa que é construir um ser humano.

O trabalho é diário e perpétuo, desde bebê até o fim da vida. Ser mãe é incrível, mas ser mãe em dobro, nos torna ainda mais fortes. Lorenza Viega é o nome da minha menina, que me concebeu a prazerosa missão de ser sua mãe, e muitas vezes, pai.

 

A imagem pode conter: 3 pessoas, incluindo Dulce Carmen e Thalyta Viega, pessoas sorrindo, pessoas em pé

- Colunista do Coritiba Thalyta Viega, sua mãe Dulce e filha Lorenza.

 

Finalizamos esta homenagem parabenizando a todos os PAIS que honram esse legado, e principalmente às MÃES que criam seus filhos sozinhas com todas as dores e os prazeres que se incluem nesta missão.

Vocês são incríveis! Resistiremos.