O ANO DO FURACÃO DAS AMÉRICAS

 

O Clube Atlético Paranaense é o único clube do Estado do Paraná que termina o ano de 2018 em êxtase. Fomos campeões do Estadual. Terminamos o torneio nacional em sétimo lugar. Até a última rodada, lutamos para alcançar o G6 e garantir a vaga da Copa Libertadores da América 2019. Não bastasse tudo isso, fomos Campeões da Copa Sul-americana de 2018, um feito inédito, histórico e inesquecível para todos os torcedores.
Em suma, somos os melhores do Estado e o único time paranaense na série A do Campeonato Brasileiro em 2019.

Quem nos pega falando de tal modo imagina que a temporada 2018 foi tranquila e bem fácil para os atleticanos. Mas não foi bem assim.

No início do ano, o Atlético manteve sua filosofia de colocar o time “sub-23” para jogar o campeonato estadual. Sob o comando de Tiago Nunes que foi contratado em abril de 2017 e a inclusão de algumas peças-chave mais experientes no elenco como Santos e Éderson, o time chamado de “aspirantes” destacou jogadores como Léo Pereira, Renan Lodi e Bruno Guimarães, e sagrou-se campeão.

 


                                                        
 (Fotografia Geraldo Bubniak)


E foi ainda no Paranaense que o maior slogan da campanha do ano de 2018 do Atlético surgiu. Em um discurso pré-jogo, abraçando os jogadores no vestiário, Tiago Nunes emocionado declamou: “É TIME DE GUERRA. O que vem contra tem que olhar para nós e entender que, do início ao fim, ele só vai correr atrás. Só vai correr atrás. A bola é minha, o campo é meu. Nós vamos fazer história”.

Assim, Tiago Nunes, o “técnico de guerra” ganhava não só o campeonato estadual, mas o coração dos jogadores e também da torcida.

Com o início da temporada do time principal do Atlético, sob comando do então inovador Fernando Diniz, a equipe foi bastante elogiada na mídia esportiva nacional e surgia como uma novidade com o estilo de jogo “tik tak” implantado pelo técnico.

Até a Diretoria parecia estar em lua de mel com a torcida organizada, liberando a festa, baterias e bandeiras no setor Buenos Aires superior.

Na Copa do Brasil o Atlético eliminou o Ceará nos pênaltis e o São Paulo, avançando às oitavas de final quando então enfrentou o Cruzeiro.
Na Sul-americana, a estreia contra o Newell’s Old Boys na Arena foi impecável e Furacão ganhou de 3 a 0. No jogo da volta em Rosário, na Argentina, mesmo perdendo de 2 a 1 conseguiu a classificação para a próxima fase. Foi já neste jogo que o sonho de conquistar a América ficou em evidência.

Porém, mesmo mantendo ótimos jogos no início, as dificuldades começaram a surgir. O time principal parecia não estar mais na mesma sintonia (tal qual o time de aspirantes) e não se encontrava em campo. Seguiram-se sequências de jogos de total desespero da torcida rubro-negra. Chegamos a ficar na última colocação na tabela do Brasileiro sob o comando de Diniz, com apenas uma vitória em 13 jogos.

De início, os torcedores começaram a desconfiar dos jogadores, afinal, nosso técnico era inovador, aplicava as técnicas dos times europeus. Os jogadores elogiavam o esquema de jogo, ao ponto de dizer que estavam reaprendendo a jogar futebol.

Mas Diniz inovou tanto que uma hora já não deu mais certo, se perdeu e perdeu muitos jogos.  A confiança da torcida também foi embora. Fazíamos contas nos dedos de quantos pontos seriam necessários para nos mantermos na série A. Nos digladiavam nas redes sociais e o pior: entre os próprios torcedores.

Nesse meio tempo perdemos coisas importantes. Após 36 anos, o São Paulo quebrou o tabu e venceu o Atlético dentro da Arena da Baixada, algo inadmissível.

                                                                                                                                                                                          
                  Foto: Guilherme Artigas/Fotoarena

No jogo de ida contra o Cruzeiro, pela Copa do Brasil, a diretoria do Clube deu início ao projeto da “torcida única”, em conjunto com o Ministério Público, deixando de vender ingressos para a torcida visitante e instalando o verdadeiro caos na relação Clube-Torcida, obrigando a organizada a ocupar o setor Coronel Dulcídio Superior – originalmente da torcida visitante.

Em paralelo, Fernando Diniz fazia uma verdadeira bagunça no time, com substituições incompreensíveis, improvisações (Bruno Guimarães na zaga) e mesmo com maior posse de bola, o time do Atlético não era efetivo e não chegava ao gol. Fernando Diniz fez história no Furacão como o técnico com o pior aproveitamento no clube em 10 anos (Fonte: GloboEsporte.com).

Tudo isso culminou com a revolta da torcida que desesperada pedia a cabeça de Diniz. Mario Celso Petraglia, no entanto, anunciou que o Atlético poderia cair para a série B, que Diniz não sairia.

Com a pausa para a Copa do mundo, e após os incansáveis pedidos da torcida, MCP reviu seu posicionamento e a diretoria finalmente desligou o técnico Fernando Diniz elevando Tiago Nunes ao cargo de técnico interino do time principal.
 
                               (Foto: Albari Rosa)

O primeiro jogo sob seu comando foi justamente contra o Cruzeiro, na Copa do Brasil, precisando converter o péssimo resultado obtido em casa. Para se classificar, o Furacão precisava vencer por dois gols de diferença no Mineirão, mas empatou por 1 a 1 e despediu-se da Copa do Brasil.

Entretanto a partir dali, as coisas começaram a melhorar. Mesmo pegando o time na zona do rebaixamento do campeonato, Tiago Nunes e sua equipe realizaram um forte trabalho psicológico e de união, o que começava a dar a cara para o time que o final do ano – sequer imaginávamos – seria campeão da Copa Sul-americana.

Voltamos a ser invencíveis em casa. Nossa marca registrada havia sido resgatada, lavamos a alma. Passamos por Peñarol e Caracas na Sula. Pablo Felipe se tornava o grande nome do time. Léo Pereira, Jonathan, Bruno Guimarães, Raphael Veiga e Renan Lodi se destacavam e a união do grupo ficava mais que evidente.

                       (Foto: Site Oficial do CAP)

Mas nem tudo era 100% flores para o Atlético. Nunca é, já que costumamos dizer que se não for sofrido não é o Atlético. Na 30ª rodada do Brasileiro o rubro-negro paranaense ainda não havia vencido fora de casa. O primeiro jogo contra o Bahia, válido pelas quartas de final da Sula foi agonizante e graças ao recurso do VAR não fomos injustiçados.

Na semifinal, contra o Fluminense, conseguimos a vantagem por 2 a 0 em casa, e após, ousamos calar o Maracanã lotado marcando mais dois gols e conseguindo o feito: estávamos na final da Copa Sul-Americana. Estávamos verdadeiramente incrédulos. Um turbilhão de sentimentos passava pelas nossas cabeças, atingia nossos sonhos e nos tirava do chão.
Seria possível ao nosso Furacão, conquistar de uma vez por todas a América?

Na reta final do Campeonato Brasileiro fomos guerreiros. Conseguimos vencer o Flamengo, em pleno Maracanã, de virada, calando-o novamente.

Contudo, com a vitória do Atlético Mineiro, não conseguimos chegar ao G6 e a vaga para a fase de grupos da Libertadores de 2019 ficou com o xará.

Tínhamos o início do mês de dezembro e nossas atenções e rezas todas voltadas para os dois jogos da finalíssima contra o Junior Barranquilla, da Colômbia, time que sabíamos que seria pedreira, e que também não estava na final por acaso.

O primeiro jogo da final na Colômbia ficou marcado por mais uma célebre frase, agora do nosso capitão, que ficará eternizada. Lucho González, sabiamente profetizou: “Una final no se juega. Una final se gaña”.

Com o empate em 1 a 1, viemos para Curitiba confiantes, porém respeitando bastante o adversário.

No meio de todo esse turbilhão de emoções, o Atlético não poderia esperar para lançar sua nova marca, escudo, nome, uniforme e mascote. Em um evento realizado na véspera de um dos jogo mais importantes de sua história, a diretoria do Clube fez as apresentações. O resultado desagradou a grande maioria dos torcedores. Da noite para o dia viramos o Athletico e nosso escudo imponente foi aposentado, sem mais nem menos.

Mas tínhamos algo mais importante para nos preocupar: o dia seguinte.

No fatídico dia 12 de dezembro, na Arena da Baixada, o Junior “tu papá” se mostrou bastante organizado e principalmente com um preparo físico invejável.

Mas nós somos o Atlético, ou Athletico, agora. E aqui além de tudo isso temos algo a mais: nossa apaixonada torcida. Uma torcida que inventa e se reinventa quando preciso. Que faz acordos mirabolantes com a diretoria, só para poder empurrar o time. Uma torcida que sai às 14 horas do trabalho para confraternizar em frente à Baixada com os demais atleticanos e se preparar para a batalha. Que enfrenta chuva e sol e viagens intermináveis para estar junto do Furacão. Uma torcida que é acima de tudo guerreira.

E tem que ser guerreira mesmo para aguentar a emoção que o jogo da final proporcionou ao torcedor rubro-negro. Saímos na frente. Levamos o gol de empate. Fizemos um pênalti na prorrogação. Barrera, do Junior, desperdiçou a cobrança. Fomos para as cobranças finais nos pênaltis. Fuentes e Téo Gutierrez mandaram na trave e para fora, respectivamente. Renan Lodi mandou para fora. Thiago Heleno bateu e marcou o pênalti que nos deu o título. UFA! FOMOS CAMPEÕES! SOMOS O FURACÃO DA AMÉRICA .

Presenciamos nosso capitão Lucho González erguer a taça da Sul-Americana.

                        Foto: Reprodução/Internet

Até o meio do ano, ninguém imaginou que 2018 seria tão intenso e importante para o Furacão.
Se fizermos um teste, perguntando para qualquer atleticano qual foi a emoção do título, é bem provável que ele não saiba definir. Entretanto, ele certamente confirmará a seguinte assertiva: “Foi o melhor dia das nossas vidas”.

                   Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

 

Por Aline do Valle e Daiane Luz