O que o futebol uniu… já sabe

 

Quem diria que uma alvinegro e um tricolor seriam unidos pela paixão à um rubro negro?

12 de junho de 2011, um domingo a tarde, um jogo decisivo e lá vamos nós!

Eu, na arquibancada torcendo. Ele, na beira do campo trabalhando. O desejo era o mesmo. O objetivo era o mesmo.

O apito final, o fim da linha, o jogo acabou e a classificação não veio.

O fim. O começo. Tudo ali, no mesmo lugar, ao mesmo tempo. Nem de longe, nem em sonho imaginávamos que seria aquele O dia. Não foi rsrs.

Na memória, o menino inquieto que não parava nem sentado e nem em pé, andava de um lado para o outro, chutava a grama e atirava um copo d’água. Me incomodou, me lembrou a mim mesma vendo os jogos do Santos. Na hora, achei graça. Passou.

Alguns dias mais tarde, o destino nos colocaria frente a frente. Eu, bicho do mato. Ele, curioso.

Hoje, quando conversamos sobre aquela manhã de um dia qualquer da semana, ele lembra exatamente a roupa que eu usava e faz questão de lembrar do meu jeito “tímido”, eu acho graça da descrição dele e fico um pouco sem jeito ainda, mesmo depois de tantos anos.

Nossa amizade começou entre brincadeiras por causa do bendito R tão puxado do sul mato grossense  comparado ao sotaque mineiro. Um certo magoei, não é, mala?

Ele não me escolheu. Eu também não o escolhi. Não precisaria. Alguém se apaixonou primeiro, e na inocência de uma criança, a frase tão cheia de significado: “eu prefiro ele…”.

Os anos passaram. Erramos muito, muito mais do que qualquer outra amizade pudesse resistir. Brigamos muito, como fazem as pessoas que querem bem ao outro.

Mas, contudo, nossa trajetória foi linda. Com ele aprendi a ver o futebol com outros olhos. Por ele eu conheci uma força que até então não conhecia. Por ele e através dele, eu conheci pessoas que ficarão guardadas pra sempre no coração.

Com ele eu realizei um sonho, que, hoje, ao lembrar da emoção de pisar naquele lugar, meu coração se enche de alegria e gratidão.

 


Nossa amizade foi além. Foi um porto seguro quando um dos dois perdeu o rumo…

Dividimos sonhos, choramos juntos por perdas irreparáveis, rimos dos outros e de nós, dividimos alguns tropeços e ajudamos o outro à continuar. Dividimos sementes e podas, afinal nem tudo são flores, não é? A frase: “o que você acha?” ou “me dá tua opinião” foi dita, ouvida, escrita e lida milhares de vezes (e não é exagero!!). Foi nossa base.

Quando doeu, ligamos e o outro ouviu, dividimos as angústias diante dos problemas familiares, as preocupações, quando não soube o que fazer com meu papel de mãe. Me preocupei com a família dele tanto quanto ele se preocupou com a minha.

Quando foi festa, ligamos e o outro ouviu. Dividimos nota de concurso, matrícula na faculdade, proposta de trabalho e deveres cumpridos.

Quando foi importante, quase um segredo, ligamos e outro ouviu. Dividimos as dores, a luta de ser mulher num mundo tão machista e superficial, dividimos a solidão, a estranheza de estar fora de casa.

Quando não tinha importância alguma, ligamos e o outro ouviu. E dividimos os treinos montados, os jogos de futebol, as histórias, as receitas testadas e a sensação de conseguir.

Dividimos tantos natais e anos novos, cheios de expectativas e vontade de dar certo. Dividimos aniversários e declarações por telefone. Dividimos algumas poucas festas, “o que você acha dessa roupa?”. Dividimos hoooooras de ônibus, “onde você tá?”. Dividimos horas de avião também, com o meu velho “me avise quando chegar”. E o ano passava.

Nós encontramos o nosso lugar, do nosso jeito, sem questionar e sabendo que se um sentir o outro sente também. A distância, a gente encolheu. O tempo, nós adaptamos ao nosso modo, e meses longe somem quando estamos juntos. O silêncio dele, o jeito “torto” de demonstrar, a mania de perguntar sem parar que tanto me irrita, minha falta de paciência e mania de brigar...nós.

Foram muitas despedidas para nunca mais, vários reencontros ‘não te largo mais’… Tinha muito pra te dizer.

Precisava escrever…

 

Por: Andra