QUANTAS HISTÓRIAS CABEM EM 2020? A RETROSPECTIVA DO TRICOLOR BAIANO

2020 foi um ano atribulado para todo mundo e o futebol passou por muitas adaptações devido a propagação do novo Coronavírus. Ano de superação, de grandes desafios e solidariedade

 

1º de Janeiro, a data mais importante do Esporte Clube Bahia: a data de sua fundação e quando já começamos o ano pedindo sempre a melhora do nosso clube amado. 

Jamais imaginaríamos que 2020 já começaria diferente. O time de transição estava a todo vapor e com as melhores e maiores expectativas de um ano promissor para a garotada. Nosso tão sonhado Centro de Treinamentos finalmente foi inaugurado, precisamente no dia 11/01. Um dia de renovação e conquistas para nosso clube e torcida, finalmente temos nosso espaço.  Nomeado de Evaristo de Macedo, teve acesso liberado aos sócios, foi um dia de muita festa. Várias contratações foram divulgadas. A equipe feminina também começou com todo gás, depois da conquista do Baianão 2019, estavam focadas totalmente no Campeonato Brasileiro A2, onde só o acesso para A1 importava.

 

 

Foto: Reprodução/ECBahia

 

Fevereiro começou com um culto ecumênico no CT Evaristo de Macedo, com presença de vários líderes religiosos, em nome da diversidade, abrir os caminhos e abençoar o novo investimento. Muita paz, respeito e energias positivas para este ano. Também neste mês, começou a disputa em uma competição internacional, onde o Bahia deu o primeiro passo lá no Paraguai.

Março já começou com um triunfo em cima dos rivais de Canabrava, com um golaço no apagar das luzes e um triunfo de virada. No dia 7, tivemos uma rodada dupla, aquele dia em que todo torcedor sonhou. Uma tarde toda de futebol na Fonte Nova, partidas pela Copa do Nordeste e Baiano, onde tivemos um triunfo e um empate, fora a festa. Jamais imaginaríamos que aquele seria nosso último dia nas arquibancadas em 2020, mas antes disso, nossas Meninas de Aço estrearam com o pé direito no Brasileirão. No dia 14, venceram o UDA-AL por 8 a 0, fora o baile, com a torcida menor, porém presente e barulhenta para apoiá-las. 

Alguns dias depois, o Bahia fez um comunicado oficial suspendendo suas atividades por tempo indeterminado. De acordo com o presidente Bellintani, o avanço da Covid-19 ocasionou a intervenção dos jogos em todo país, ou melhor, no mundo, e assim, começamos uma longa batalha, onde o adversário era invisível e destruía muito além das 4 linhas. O futebol parou, o mundo parou, por culpa do vírus maldito.

 

 

Foto: Reprodução/ECBahia

 

De Março a Julho, várias campanhas de prevenção foram lançadas pelo clube, como a importância do uso da máscara, uso de álcool, lavagem das mãos e o principal, distanciamento social. Todos os atletas estavam treinando de suas casas, e uma forma de interagir o público com seu time amado, foi transmitir as atividades através de suas redes sociais. Foi criado o Big Bróder Bahia, onde os preparadores físicos divulgavam programação de exercícios e lives de conversas. #JuntosVenceremos foi uma forma de pedir apoio à torcida para não cancelar o sócio, pois uma das maiores rendas do Clube é o capital que vem de sua massa.

Outras diversas campanhas também foram criadas, como “Bahia contra a fome”, arrecadando alimentos para os mais necessitados. O Esquadrão também cedeu o antigo CT (Fazendão) para o governo utilizar como alojamento de pacientes infectados. Nesse meio termo, o Tricolor divulgou em suas redes sociais, o fim do projeto do time de transição, a fim de cortar custos devido à crise instalada em vários clubes. A diretoria também comunicou o corte dos salários deles e dos jogadores em 25% para reduzir gastos e não precisar demitir funcionários.

 

 

Foto: Reprodução/ECBahia

 

O Bahia sempre postou os passos dos atletas neste período de “pausa”, inclusive em Junho todos passaram por uma testagem, com os exames feitos por drive. Devido a este novo normal, o Bahia inovou sua rede digital, criando o Sócio Digital. Para maiores informações do Clube, os torcedores se sentiriam mais próximos dos jogadores, já que as autoridades políticas, juntamente com a secretaria de saúde autorizaram o retorno dos treinamentos presenciais, obedecendo uma série de exigências.

 

 

Foto: Reprodução/ECBahia

 

Depois de 1 mês de treinamento presencial, o Bahia finalmente voltou aos gramados. No dia 22 de Julho, a Copa do Nordeste retornou e a primeira partida foi contra o Náutico, onde o Tricolor venceu de goleada. Já estávamos sonhando com a taça, mas a realidade bateu em nossa porta. No dia seguinte, foi o retorno do Baianão, contra o Atlético de Alagoinhas e o Bahia acabou derrotado. O time foi para a final da Copa do Nordeste, mas perdeu para o Ceará. A torcida foi à loucura com um mix de sentimentos, tristeza com raiva, nada estava dando certo.  Péssimo futebol apresentado em campo, jogadores sem garra, time apático, sem palavras para essa fase. Como a vida de torcedor do Bahia não é fácil, dias depois chegou a disputa da final do Baiano.

Agosto não foi o mês do desgosto. Mesmo com um futebol ridículo e após quase perder a taça para o Atlético, o Bahia venceu na força do ódio e levantou a Taça de Campeão Baiano 2020. Mesmo com tamanha revolta, foi a única ‘graça’ apresentada pelo clube, porque o resto só foi “disgraça”. A torcida não cansava de pedir a saída do técnico. Eu, particularmente, gostava muito dele, mas preciso concordar que nas últimas rodadas ele estava perdido nas escalações, porém não o culpo sozinho, infelizmente ele não tinha peças qualificadas para relacionar para um jogo. Jogadores super abaixo de qualidade não fazem milagres. Depois de muito protesto, no início de Setembro, Roger foi demitido. Dias depois, foi divulgada a contratação de Mano Menezes para o comando do Tricolor.

Uma contratação de peso na parte técnica, porém em campo, mesmas peças, então Mano precisou abusar da ousadia para armar a equipe. O trabalho foi árduo, mas não foi suficiente para tirar o Esquadrão na parte debaixo da tabela. Apesar de ganhar umas, perdia mais do que tudo. Falhas persistentes, um time fraco, sem muita ousadia e garra. Eu falei várias vezes que não ia assistir, mas não consigo, segui meu estresse. Por outro lado, as garotas do time feminino só deram orgulho, a goleira Anna Beatriz e a lateral Nine foram convocadas para a seleção sub-20, nos deixando sempre orgulhosas do bom trabalho do Igor Moreno. Elas também passaram a quarentena treinando em casa, supervisionadas pelos preparadores físicos e pela torcida. Voltaram aos treinos presenciais em Setembro e, logo em seguida, o Brasileirão A2 retornou.

Outubro chegou e as derrotas persistiam, time muito ruim tecnicamente. Pode mudar de técnico, mas enquanto não tiver reforços o Bahia continuará na saga contra o rebaixamento, a sorte dele que tem times piores embaixo, senão já estaríamos lá na zona. Por outro lado, as meninas voltaram a campo e venceram quase todas partidas que disputaram. 

 

 

Foto: Felipe Oliveira | ECBahia

 

No dia 5 de novembro, nosso mascote fiel de guerra, o Jotinha, faleceu devido a complicações da Covid-19. Mais uma vez fica o alerta, fiquem em casa, mas se precisar sair, usem máscara e evitem aglomerações.

Enquanto o masculino continuou mal, o feminino deu um show de bola. Invictas, as Meninas de Aço conseguiram o sonhado acesso à série A1 na partida contra o Fortaleza. Empataram a 1ª partida, mas venceram a segunda, com gol de Aila. Orgulho define. Só elas sabem as dificuldades na caminhada, jogaram em campos de péssima qualidade, em um horário desleal (14h, onde tem 1 sol para cada jogadora), ausência de transmissão ampliada. Os jogos foram transmitidos pelo CBF Tv, de péssima qualidade e onde muitos narradores sequer sabiam nomes das atletas, total despreparo. Para ajudar, nossa artilheira Gadu ficou de fora das últimas partidas, depois de uma fratura da tíbia. Olha, a caminhada não foi fácil, mas elas chegaram lá. Classificadas para a semifinal, elas entraram em recesso e só retornam a campo em Janeiro. Só temos a comemorar e agradecer uma por uma. Foram 9 jogos, 8 triunfos e 1 empate, fizeram 28 gols e só levaram 2. Orgulho e Orgulho! Obrigada, meninas!!

Em Dezembro, veio a desclassificação na Sul-Americana, além do time não estar bem no Brasileirão. A vida do torcedor do Bahia é rezar, eu nem sei mais para que Santo eu peço a melhora dele, tá difícil, viu? Como se já não bastasse todo estresse que vivemos, no dia 20 de Dezembro, no duelo contra o Flamengo, o Tricolor começou perdendo, virou e depois tomou a virada, mas perdemos muito mais do que 3 pontos, perdemos toda estabilidade emocional, quando Gerson fez uma denúncia de suposta injúria racial contra o atleta Ramirez. Foi uma semana complicada, onde vários juízes da internet julgaram o caso, tomaram decisões precipitadas e condenaram o jovem colombiano. Vários peritos foram contratados para realizar leitura labial, vários canais digitais acusando o Ramirez e o que foi concluído? NADA! Isso mesmo, diante de várias câmeras, microfones, atletas e pessoas que estavam no estádio, nenhuma prova ou testemunha confirmaram as palavras de ofensa de Ramirez para Gerson, quiseram jogar ofensa de Ramirez para Bruno Henrique, que também não foi comprovada. Diante da falta de provas, o Bahia reintegrou o jovem ao clube e ele voltou a treinar. Para completar, Mano Menezes foi demitido diante de vários fatos que não estavam agradando a diretoria. Quem chegou para somar foi o Dado Cavalcanti, velho conhecido da torcida, que esteve à frente do time de transição no início do ano. 

Aproveitando o ensejo, deixo meu apelo para todos atletas, torcedores e pessoas envolvidas no futebol. Essa acusação foi muito grave, todos acusando o rapaz sem provas, tirando conclusões diante de um pronunciamento sem fundamento. Quem me conhece, sabe o quanto eu luto pelas causas sociais e garantias de direitos dos cidadãos, mas nesse caso, me mantive imparcial pelo fato de não ter provas desde o início. Todas acusações feitas no meio do futebol foram esclarecidas de imediato, no mundo tecnológico que vivemos, nada passa batido, ainda mais com estádio vazio, onde todas as câmeras e microfones estão voltados nas quatro linhas, foram 5 dias de pesquisa e avaliação das imagens para achar uma prova contra Ramirez e não foi encontrada! Não sei se Gerson ouviu errado ou se equivocou com a língua do colombiano, mas deixo meu apelo para o cuidado com esse tipo de acusação.  

Já os garotos do sub-20 também estão nos dando alegrias. Em uma longa caminhada, chegaram até a final da Copa do Brasil e estão disputando a taça contra o Vasco. Na primeira partida, perderam por 2 a 1 e o jogo decisivo será em 3 de Janeiro. Vamos pra cima deles, Esquadrãozinho!

 

 

Foto: Reprodução/ECBahia

 

Voltando ao estresse diário, a equipe principal só vai rolando ladeira abaixo. Em uma série de derrotas, somando seis nos últimos seis jogos disputados, o Bahia encerra o ano na porteira da zona de rebaixamento, na 16ª colocação, com 28 pontos (mesma pontuação do Vasco, o primeiro da zona). Sangue de Cristo tem poder, vamos todos na Igreja do Senhor do Bonfim pedir ajuda divina e amarrar nossas fitinhas, eu já amarrei 4, só aí foram 12 pedidos. Vamos lá, toda ajuda é bem vinda. 

Bom final de ano para todos. Em 2021, completaremos 90 anos, que a virada do ano seja o início de uma boa fase e se manter na série A é um bom começo. Que seja um ano repleto de realizações e PAZ, pois há muitos anos a torcida do Bahêa não sabe o que é isso!

 

Foto: Arquivo Pessoal

 

Por Thamires Barbosa

 

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.*