RESILIÊNCIA: A ARTE DE VIRAR O JOGO

 

(Foto: Vinicius do Prado)

 

Algumas coisas na vida são mais difíceis do que outras de serem colocadas em palavras para demonstrar com exatidão o sentimento que desejamos passar a quem está lendo. O que aconteceu na Vila Capanema na noite de quarta-feira (26), é um desses momentos em que as palavras não são suficientes.

O Paraná Clube recebeu o Bahia de Feira pela segunda rodada da Copa do Brasil e fez história na competição. O jogo estava marcado por protestos, xingamentos, reclamações e ironias. Aos 46 minutos do segundo tempo, o Tricolor estava na posição de eliminado e perdendo por 2x0. Pelos acréscimos apontados, nos restavam apenas 4 minutos para tentar um milagre. Naquele momento, meus amigos, não existia ateu nas arquibancadas.

Não acredito que o texto de hoje precisa ser pautado em análises sobre o time, erros e acertos. O que vimos na partida foi o Paraná Clube realizar um primeiro tempo bom, dominando o adversário e perdendo muitas oportunidades de gol, algo que vem acontecendo com frequência. A segunda etapa já não começou tão positiva assim. O Bahia de Feira abriu o placar aos 13 minutos com gol de Léo Porto. Aos 23 ampliou em um golaço de falta de Alex Cazumba. Daquele momento em diante, a torcida Paranista não conseguiu se manter paciente.

O cenário era péssimo, o sentimento naquele momento era de impotência. Eu me vi no alambrado da Reta do Relógio com um filme passando na cabeça, sem reação. Nós não devemos desistir nunca, sabemos disso. Mas confesso que, naquele momento, mesmo sabendo que eu estava errada, não consegui enxergar algo bom para nós.

 

(Foto: Divulgação Paraná Clube)

 

Não precisamos mentir, era nítido que esses sentimento tinha tomado conta das arquibancadas da Vila. Os protestos começaram e, entre gritos de time sem vergonha e raça, o elenco pareceu encontrar forças onde nós não enxergamos. Marcelo saiu vaiado após perder um gol inacreditável e demonstrou ter ficado abalado com o ocorrido. De alguma forma, eu espero que as mensagens cheguem aos nossos jogadores.

Sabemos que não é fácil ouvir os gritos de protesto dos torcedores, os xingamentos e as provocações. O torcedor é movido por paixão, por um amor que jamais poderá ser explicado. E da mesma maneira que a corneta de ouro se faz presente, nós estamos disposto a abraçar quem quer marcar a história do clube.

Se tem uma palavra que define o elenco Paranista, essa palavra é RESILIÊNCIA. Já falamos diversas vezes sobre as limitações, sobre a evolução e sobre como precisamos de reforços para nos tornarmos um time mais competitivo. Mas sobre cada jogador que veste a nossa camisa, vontade de vencer e dedicação para continuar lutando não faltam nunca.

Em mais um momento, quiseram os deuses do futebol que essa dedicação fosse recompensada. Todos os gritos e protestos se transformaram em força. Nesta noite de quarta-feira (26), vimos homens que se recusaram a sair de campo com um resultado adverso. Vimos qualquer faísca de frustração ser transformada em força, garra e união. Presenciamos o impossível ser transformado em realidade.

Aos 47 minutos do segundo tempo, Thales marcou nosso primeiro gol. Aos 48 minutos, Fabrício estufou as redes em um gol que já nos dava vida novamente. O empate significava levar a partida para a decisão por pênaltis. Estávamos novamente na disputa. Mas um time que se entregou tanto, que lutou tanto, não merecia sofrer dessa forma. Aos 53 minutos, no que seria o último lance da partida, Renan Bressan ajeitou a bola em uma cobrança de falta na entrada da área.

Naquele momento eu vi um novo filme, o gol parecia passar na cabeça de cada torcedor antes mesmo de acontecer. Bastou uma cobrança perfeita de Bressan para a Vila Capanema explodir em um grito de 1,5 milhão de reais. A rede balançou, cerveja voou para o alto, torcedores deixaram o choro de alegria tomar conta e o abraço até em pessoas desconhecidas voltou a acontecer.

Aos nossos jogadores, por favor entendam, quando as críticas aparecem, muitas vezes é por estarmos cansados de ouvir sempre a mesma coisa. Não é nada pessoal, é apenas a nossa paixão falando mais alto em um momento de nervosismo. Mas da mesma forma que vocês nos viram irritados com uma possível eliminação, vocês nos viram explodindo em festa para comemorar o que vocês fizeram.

Que possamos seguir com toda essa dedicação e entrega. Que a cada momento exista luta e união. O resultado só aparece para quem não desiste. E quando cantamos sobre um sentimento que nunca acabará, não estamos brincando.

Agenda a TED, CBF! A virada histórica e o placar de 3x2 merecem comemoração!

 

Por Gabrielle Bizinelli

 

*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não representam, necessariamente, a opinião do Blog Mulheres em Campo.