TIME DE GUERREIRAS

 

Foto: Flickr do Cruzeiro/Vinnicius Silva

 

Um pouco de história

 

Parece inacreditável, mas em 1941 um decreto de Lei do governo Vargas, proibia a “prática de esportes compatíveis com a natureza feminina”. Isso só foi mudado em 1979. Se pararmos para pensar, historicamente muito recente. 

 

Com toda carga de anos de preconceitos, proibições eu chego afirmar, de medo, mesmo assim nós mulheres insistíamos. Já em 1986 um amistoso entre Brasil e Estados Unidos marcou a primeira entrada de uma seleção feminina brasileira em campo. 

 

Esse ano, vendo da janela do meu prédio, um pai um filho e uma filha, percebi que a menina nunca recebia a bola. De forma tímida, a menina com seus 10 anos, tentava chamar atenção dos dois para conseguir participar. Tudo inútil. Até que se cansou, se sentou no chão e foi brincar com outra coisa. Fiquei irritada com a cena é gritei: Oh pai, a menina também quer jogar. Senti uma leve animação nos olhinhos da minha vizinha, mas também fui ignorada. 

 

Poderia contar várias histórias das vezes que eu mesma tive tratamento diferente quando quis participar de rodas de conversa sobre o esporte ou até mesmo ir ao campo. Ir sozinha? Que absurdo! 

 

Óbvio que com o passar do tempo as próprias mulheres começaram a não se importar com a opinião dos outros. Invadimos os estádios, as torcidas organizadas,  a cada dia mais, entramos nos meios de comunicação especializados.

 

Foto: Flickr do Cruzeiro/Vinnicius Silva

 

Mesmo com tantas conquistas femininas, mesmo provando nossa capacidade para ser e fazer qualquer coisa, mesmo com o mundo bem mais tolerante, precisou ser obrigatório para que houvesse toda essa movimentação e criação de equipes femininas no Brasil e em todos os países que participam de competições da Conmebol. 

 

A partir do artigo 23 da FIFA que cobra igualdade de gênero, Conmebol e CBF tiveram que se adequar à nova realidade. Times sem equipes adultas femininas até 2019, poderiam ficar sem participar do Brasileirão série A, Copa Sul-Americana e Libertadores.

 

Foto: Flickr do Cruzeiro/Vinnicius Silva

 

As Cabulosas

 

Após  tudo isso, com muito orgulho digo que o dia 27 de fevereiro de 2019 ficou marcado na história do Cruzeiro e do futebol. Nesse dia, foi apresentado oficialmente a primeira equipe feminina à vestir a camisa Celeste.

 

Bárbara Fonseca foi a coordenadora responsável por montar a comissão técnica e elenco. Ela é figura fundamental para todo desenvolvimento do projeto Cruzeirense na Série A2.

 

Usando a estrutura esportiva da PUC-Minas Coração Eucarístico e mandando os jogos em casa no Estádio das Alterosas do SESC Venda Nova, a esquipe feminina que ficou conhecida como As Cabulosas, fez bonito. 

 

A série A2 é uma espécie de segunda divisão que contava com 36 equipes divididas em 6 grupos. Apenas 4 passariam para o Campeonato Brasileiro A1. O Cruzeiro ficou no grupo 5 e se classificou em 2º lugar para as oitavas de final. 

 

Jogou com o Pinheirense (PA) nas oitavas e ganhou as duas partidas. Nas quartas, também ganhou as duas partidas contra o Ceará. Foi para as semifinais com o Grêmio e mais duas vitórias. Chegou à final com o São Paulo.

 

Duas equipes vitoriosas no futebol masculino, também fizeram história no futebol feminino. Infelizmente a primeira partida que aconteceu no estádio Pacaembú (SP), na semana anterior, teve o placar muito elástico. São Paulo 4 à 0.

 

Neste domingo (25), a partida de volta foi em Belo Horizonte, na casa do Cruzeiro. Reverter o resultado anterior, complicado. Mas as guerreiras Celestes lutaram o tempo todo. Inegável a entrega de cada uma. O jogo ficou empatado 1 a 1. O São Paulo foi o campeão. Subiu para A1 Grêmio, Palmeiras, São Paulo e Cruzeiro. 

 

O Cruzeiro queria e tinha totais condições de ser campeão. Mas não se pode desvalorizar a campanha impecável das Cabulosas. São sim vencedoras, personagens importantes da história do esporte. Postura, seriedade, profissionalismo e entrega não faltaram. O Manto Celeste foi honrado. Que venha a primeira divisão. 

 

Parabéns,

Cabulosas! 

 

Ficha técnica

 

Final do Campeonato Brasileiro A2 de 2019

Data: 25/08/2019

Horário:14:00

Local: Estádio das Alterosas/ SESC Venda Nova (BH)

 

Cruzeiro: Camila, Isa Leone, Pires, Lia, Janaína, Isabela (Pâmela), Nathália (Micaelly), Duda, Vanessa, Miriã e Kim (thayane). Técnico Hoffmann Túlio. 

 

São Paulo: Carla, Andressa, Bruna, Thaís, Natane, Cris (Rayane), Yaya, Ary Borges, Jaqueline (Larissa Santos), Ottilia (Piti) e Valéria. Técnico Lucas Piccinato. 

 

Gols: Duda (Cruzeiro); Ottilia (São Paulo)

 

Arbitragem: Francielly Fernanda Lima

 

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Sam Bella

 

Fonte: Globo.com